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quarta-feira, 12 de abril de 2017

MITO WAPIXANA

3.1  BAARAZNAU90  WAPICHAN    ‘OS CAMPOS WAPIXANA’


Bernard Pottier, em sua obra Le Domaine de l’Ethnolinguistique (1970, p. 3) já notava que  o estudo das taxionomias lexicais91 é via privilegiada para a compreensão da língua e a visão de mundo do grupo estudado. A partir dessa perspectiva, iremos aqui explorar as taxionomias das paisagens vegetais dos Wapixana, inserindo um novo dado aos mapas da RISeL, segundo a visão  de mundo Wapixana.
Antes, dizem os Wapixana, só havia dia e uma grande árvore, ‘tamoromu’. Todo alimento estava lá, não precisava plantar era só colher. Só que a árvore era bastante alta e havia muita quantidade e diversidade de alimentos nesta árvore: mandioca, amendoim, banana, milho, arroz, abóbora, cará, feijão, inhame, melancia, tudo na mesma grande árvore. No entanto, para alcançar  os alimentos era necessário subir nesta, atividade que era muito penoso. Então, dois irmãos resolveram cortar tamoromu, ‘a grande árvore’, para facilitar a colheita  dos  alimentos,  assim como, retirar as suas sementes. A árvore tombou, como resultado, o céu também despencou, o que era  dia,  tornou-se  noite. Onde  caiu  mandioca,  milho, abóbora... virou  roça,  ‘zakap’;  onde caiu
folhas e galhos virou floresta, ‘kanuku’; e onde não caiu nada virou campo,  baaraz’92.


Este mito consta na memória coletiva dos Wapixana e povos adjacentes, como os Makuxi. O próprio monte Roraima é considerado como o tronco desta grande árvore que foi derrubada   pelos irmãos arteiros, resquícios de uma geografia mítica na atual TI Raposa/Serra do Sol. Os Wapixana,  nesta  geografia  totêmica93,  ficaram  no  campo,  baaraz,  ou  melhor,  nos      campos,

baaraznau, visto que são diversos.

Outra versão mítica das paisagens campestres Wapixana refere-se também à morte, agora  de um grande animal:
Contam que os paraiunan, [Paraviana], uma tribo de gente que corria muito, muito rápida mesmo, respeitavam muito um bicho. Esse bicho era como uma onça, bem grande, morava para baixo e não tinha o lavrado ainda. Esses índios resolveram matar o bicho e o flecharam e cortavam o bicho enquanto este corria. Onde caia os pedaços do bicho, as matas se transformavam em campo, lago, igarapé, tudo bem perto do outro. (informação verbal)9










FONTE   João Paulo Jeannine Andrade Carneiro








A Morada dos Wapixana
Atlas Toponímico da Região Indígena da Serra da Lua – RR

  










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