2.1
A LÍNGUA WAPIXANA
Os Wapixana representam uma ilha Arawak num mar de
Karíb, visto que todos os grupos étnicos que os circundam (Makuxi, Waiwai,
Taurepang e Ingarikó) são desta grande família indígena61. Alguns Wapixana, especialmente àqueles
residentes em malocas mistas, como a de Manoá, falam também a língua Makuxi,
além da língua oficial (Português, para os que residem no Brasil e o Inglês, na
Guiana) e de sua própria língua materna, o Wapixana62.
A língua Wapixana é afiliada geneticamente à famíla
lingüística Arawak. Rodrigues
(1986, p.65) diz que “Aruák ou Arawák é o nome de uma língua falada na
costa guianesa da América do Sul, na Venezuela, na Guiana, no Suriname e na
Guiana Francesa”. Devido a esta abrangência geográfica, inclusive algumas ilhas
das Antilhas, o nome Arawak veio a ser utilizado para designar um conjunto de
línguas aparentadas à língua Arawak. Especula-se, que Cristóvão Colombo tenha
ouvido essas línguas, em seu primeiro contato no Novo Mundo.
Outro termo utilizado para designar a família Arawak é Maipure. Esta denominação foi usada em 1782 por Filippo Salvatore Gilij, que reconheceu o parentesco genético entre a língua Maipure do vale do Orinoco e a língua Mojo, falada na Bolívia, e, então, passou a denominar o
61 Segundo
Rodrigues (1986, p. 57) "O nome Karíb (Caribe) é uma das designações pelas
quais foi conhecido um povo indígena que ocupou, nos séculos passados, grande
parte da costa norte da América do Sul e as pequenas Antilhas, estendendo-se
desde o norte da foz do Amazonas, passando pela Guiana Francesa, pelo Suriname,
pela Guiana até a Venezuela. [...] Assim, hoje as línguas que apresentam
parentesco genético com a língua Karíb são consideradas integrantes da família
lingüística Karíb." Atualmente são 21 línguas, desta família faladas
no Brasil.
62 Segundo Migliazza (1980 apud Santos,
2006, p. 20), "[...] mais de 80% dos Wapixana
podem falar a língua
nacional com a qual estão
em contato, ou português no Brasil ou o inglês na Guiana, e 30% deles podem
também falar Makuxí ou Taurepang, ambas línguas pertencentes à família Karíb.
Na realidade, considerando a facilidade de se
ultrapassar a divisa entre os dois países, é comum se encontrar, no lado
brasileiro, Wapixana que fala, além de sua língua materna, as línguas
das duas nacionalidades acima referidas, assim
como, uns poucos
mais velhos, que moram
em malocas distantes e de difícil acesso,
que falam apenas
sua própria língua materna. Nos locais mais próximos aos centros urbanos brasileiros, hoje predomina o monolingüismo em português, especialmente entre os mais jovens. Na época
da pesquisa de Migliazza, o número de falantes Wapixana
que falavam sua língua girava
em torno de 60% da população. Na atualidade, conforme o
Núcleo Insikiran de Formação Indígena (2003, p. 23), esse percentual
encontra-se reduzido para
apenas 40%".
grupo de Maipure ou Maipuran (Payne, 1991 apud Santos, 2006 p. 14). O
termo Maipure foi empregado para designar essa família lingüística, antes mesmo
que Arawak, só que após as contribuições de Von den Steinen (1886) e Brinton
(1891), este último termo se sobrepôs (Aikhenvald 1999 apud Santos, 2006).
Recentemente o termo Maipure representa a maior subfamília Arawak, assim como o
Jê em relação ao Macro-Jê.
O trabalho de David Payne (1991) estabeleceu com um
grau relativamente alto de certeza quanto às filiações genéticas entre as
línguas Maipure, ainda que as subclassificações específicas estejam sujeitas a
revisão (Urban, 1998, p. 95). A língua Wapixana, nesta classificação faz
parte do grupo Setentrional (anexo E).
A grafia Wapixana utilizada nesta pesquisa está
fundamentada no dicionário Wapixana- Português / Português-Wapixana (Cadete, 1990) que foi elaborado pelo grande
mestre da língua, o Wapixana Casimiro
Cadete, Kassun,63 e por um grupo de
professores de Wapixana que ministram aulas nas escolas estaduais das
malocas, contando com a assessoria da lingüista Bruna Francheto.
Neste dicionário, a ortografia Wapixana foi adaptada à
grafia do português64. Franchetto (1990) descreve para o
alfabeto Wapixana: quinze consoantes e cinco vogais; os símbolos para as
consoantes são: p, b t, d, k, s, z, ch, x, r, m, n, nh, w. Algumas consoantes
têm uma pronúncia característica que não é a mesma do português: “d”, “z”, “r”
são retroflexas. Os símbolos para as vogais são: a, e, i, u, y. A fonética do
“y” não existe no português: é pronunciada como se fosse “u” mas com os lábios estendidos, como no
tupi. As vogais a, i, u, y, têm correspondentes longas.
FONTE: João
Paulo Jeannine Andrade Carneiro
A Morada dos Wapixana
Atlas
Toponímico da Região Indígena da Serra da Lua – RR
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