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quarta-feira, 12 de abril de 2017

A ORIGEM DA LÍNGUA WAPIXANA

2.1  A LÍNGUA WAPIXANA



Os Wapixana representam uma ilha Arawak num mar de Karíb, visto que todos os grupos étnicos que os circundam (Makuxi, Waiwai, Taurepang e Ingarikó) são desta grande família indígena61. Alguns Wapixana, especialmente àqueles residentes em malocas mistas, como a de Manoá, falam também a língua Makuxi, além da língua oficial (Português, para os que residem no Brasil e o Inglês, na Guiana) e de sua própria língua materna, o  Wapixana62.
A língua Wapixana é afiliada geneticamente à famíla lingüística  Arawak.  Rodrigues  (1986, p.65) diz que “Aruák ou Arawák é o nome de uma língua falada na costa guianesa da América do Sul, na Venezuela, na Guiana, no Suriname e na Guiana Francesa”. Devido a esta abrangência geográfica, inclusive algumas ilhas das Antilhas, o nome Arawak veio a ser utilizado para designar um conjunto de línguas aparentadas à língua Arawak. Especula-se, que Cristóvão Colombo tenha ouvido essas línguas, em seu primeiro contato no Novo  Mundo.

Outro termo utilizado para designar a família Arawak é Maipure. Esta denominação foi usada em 1782 por Filippo Salvatore Gilij, que reconheceu o parentesco genético entre a língua Maipure do vale do Orinoco e a língua Mojo, falada na Bolívia, e, então, passou a denominar o
61 Segundo Rodrigues (1986, p. 57) "O nome Karíb (Caribe) é uma das designações pelas quais foi conhecido um povo indígena que ocupou, nos séculos passados, grande parte da costa norte da América do Sul e as pequenas Antilhas, estendendo-se desde o norte da foz do Amazonas, passando pela Guiana Francesa, pelo Suriname, pela Guiana até a Venezuela. [...] Assim, hoje as línguas que apresentam parentesco genético com a língua Karíb são consideradas integrantes da família lingüística Karíb." Atualmente são 21 línguas, desta família faladas no Brasil.
62  Segundo Migliazza (1980 apud Santos, 2006, p. 20), "[...] mais de 80% dos Wapixana podem falar a língua
nacional com a qual estão em contato, ou português no Brasil ou o inglês na Guiana, e 30% deles podem também falar Makuxí ou Taurepang, ambas línguas pertencentes à família Karíb. Na realidade, considerando a facilidade de se ultrapassar a divisa entre os dois países, é comum se encontrar, no lado brasileiro, Wapixana que fala, além de sua língua materna, as línguas das duas nacionalidades acima referidas, assim como, uns poucos mais velhos, que moram em malocas distantes e de difícil acesso, que falam apenas sua própria língua materna. Nos locais mais próximos aos centros urbanos brasileiros, hoje predomina o monolingüismo em português, especialmente entre os mais jovens. Na época da pesquisa de Migliazza, o número de falantes Wapixana que falavam sua língua girava em torno de 60% da população. Na atualidade, conforme o Núcleo Insikiran de Formação Indígena (2003, p. 23), esse percentual encontra-se reduzido para apenas 40%".




grupo de Maipure ou Maipuran (Payne, 1991 apud Santos, 2006 p. 14). O termo Maipure foi empregado para designar essa família lingüística, antes mesmo que Arawak, só que após as contribuições de Von den Steinen (1886) e Brinton (1891), este último termo se sobrepôs (Aikhenvald 1999 apud Santos, 2006). Recentemente o termo Maipure representa a maior subfamília Arawak, assim como o Jê em relação ao  Macro-Jê.
O trabalho de David Payne (1991) estabeleceu com um grau relativamente alto de certeza quanto às filiações genéticas entre as línguas Maipure, ainda que as subclassificações específicas estejam sujeitas a revisão (Urban, 1998, p. 95). A língua Wapixana, nesta classificação faz parte    do grupo Setentrional (anexo E).
A grafia Wapixana utilizada nesta pesquisa está fundamentada no dicionário Wapixana- Português / Português-Wapixana   (Cadete, 1990) que foi elaborado pelo grande mestre da língua,   o Wapixana Casimiro Cadete, Kassun,63 e por um grupo de professores de Wapixana  que  ministram aulas nas escolas estaduais das malocas, contando com a assessoria da lingüista Bruna Francheto.
Neste dicionário, a ortografia Wapixana foi adaptada à grafia do português64. Franchetto (1990) descreve para o alfabeto Wapixana: quinze consoantes e cinco vogais; os símbolos para as consoantes são: p, b t, d, k, s, z, ch, x, r, m, n, nh, w. Algumas consoantes têm uma pronúncia característica que não é a mesma do português: “d”, “z”, “r” são retroflexas. Os símbolos para as vogais são: a, e, i, u, y. A fonética do “y” não existe no português: é pronunciada como se fosse   “u” mas com os lábios estendidos, como no tupi. As vogais a, i, u, y, têm correspondentes  longas.


 FONTE: João Paulo Jeannine Andrade Carneiro








A Morada dos Wapixana
Atlas Toponímico da Região Indígena da Serra da Lua – RR

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