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sábado, 30 de março de 2013

A ORIGEM DA TERRA INDÍGENA TABALASCADA/ SERRA DA LUA


PARANKTADAUKAL - TABALASCADA

A terra indígena da tabalascada foi a penúltima a ser homologada na região indígena da serra da lua, por meio do Decreto sem número de 19 de Abril de 2005. Esta demora ocorreu por ser a terceira demarcação que o governo federal fez na terra indígena. A terra indígena de tabalascada está no extremo oeste da região serra da lua, situada dentro do município de Cantá e conta com uma área de 13.014 há, com uma população de 680 habitantes, segundo o último censo de 2014 em sua maioria wapixanas.
A maloca de tabalascada encontra-se a Beira da BR 432 que liga Boa Vista ao cantá. sua localização é privilegiada em relação a demais malocas da região, pela facilidade de transporte atá Boa Vista, pois há linhas de ônibus diárias da capital até cantá, que passam pela maloca. Em função disso, muitos indígenas de outras malocas optam por morar nela, para poder estudqr em Boa Vista, ou memso trabalhar na Capital, e á noite, voltar para maloca.
Esta aproximação dos centros urbanos com a maloca, intensificou todos os tipos de tropas com os não-indios, de mercadorias a valores culturais. Historicamente, situava-se a maloca a beira do rio branco chamado pelos wapixanas simplesmente de ‘Rio’. Wauz. A wapixana Maria Madalena, uma das mais antigas da maloca conta que.   
{...} foram os brancos que nos empurraram para cá, pois a gente morava mais para a beira do rio branco, quando me entendia o rio branco era chamado de Wauz. Boa vista era chamada de KuwyPirer.
Todos os outros relatos confirmam esta migração para leste do Wauz (Rio Branco), principalmente por causa dos fazendeiros, que como já vimos, foram os grandes responsáveis pelo ‘’nomadismo’’ wapixana no último século. Um dos informantes que vivenciou esse processo disse que os fazendeiros que lugar de índios era no mato e não no campo. Por essa causa a maloca de tabalascada está hoje no capão de mata, a única maloca da região indígena da serra da lua que se situa a baixo dos 100 metros de altitude, exatamente onde,via de regra, passamos a encontrar mata e florestas de galería. O primeiro tuxaua da maloca foi José Ambrósio Amazonense, que segundo conta, falava a língua geral amazônica. Deve ter chegado a região no final do século XIX. Na maloca, casou-se com a wapixana Maria Júlia. Ao que tudo indica, seus descendentes refugiaram-se para próxima da antiga maloca de Malacacheta.
(...) O primeiro tuxaua foi José Ambrósio meu Avô, ele era Amazonense e falava a língua geral. Casou-se por aqui com minha avó wapixana ‘Maria Júlia’. Eles moravam nas margens do rio Branco e vieram para cá, pois lá não havia mais mata. Antigamente, tudo aqui era malacacheta.
 Os índios que fundaram a maloca vieram do Oeste, hoje o fluxo migratório se inverteu, pois os wapixanas, agora, vem da Guiana, do Leste. Com isto, a população da maloca, não para de crescer. Este crescimento populacional é inversamente proporcional com relação a quantidade de terra e seus recursos. Atualmente, Tabalascada sofre também com escassez de suas matas, pois sua área é pequena para quantidade de gente. Há poucas espécies de vegetais que são ultilizadas para sustentar as casas, assim como os buritis estão perecendo pelo corte excessivos de suas palhas para a cobertura de casas.
No passado desta maloca, quase todos os habitantes morreram em função de doenças que os índios não conheciam e, consequentemente, não podiam curá-las. Desta forma essas mortes eram atribuídas a entidades malignas chamada de Kanaimé. Esta entidade é definida como um ser humano com poderes malignos e basta um breve encontro para a vitíma sucumbir ao seus poderes ele pode também atuar em outras formas que não a humana, como onça, cobra, entre outros animais. No caso da maloca de tabalascada o kanaimé foi identificado como Chico Macaco um velho wapixana da maloca.
{...} as pessoas desta comunidade quase todos morreram por causa do Chico macaco, kanaimé, ele matou minha mãe. Ela veio me carregando pelo Jamaxim aí o kanaimé matou ela. Ele da um susto, aí tem que fazer o sinal da cruz, quando minha mãe chegou da roça ela morreu, minha mãe e o nenên que estava em sua barriga. (informação verbal)
{...} tinha muita gente aí as pessoas foram morrendo, pois o kanaiméforam matando tudinho, todo mês morria gente. Eles viam da Guiana. Pessoal ia ficando rôxo, quebrado, o pescoço quebrado, ficou pouca gente, eu tinha 16/17 anos. (informação verbal)
{...} quando eu cheguei pra cá morreu muita gente na serra grande, novo intento, malacacheta, Tabalascada, Cantá e foi o kanaimé. Parece que foi o Chico macaco, ele matou meu pai, minha irmã. (informação verbal).
Através da narrativa de Maria Madalena (segundo relato) podemos alferir que esta mortandade tenha ocorrido por volta dos anos de 1937/38, alguns anos antes da criação do território do Rio Branco em 1943. Pelo último depoimento, percebemos que esta suposta epidemia de kanaimé espalhou-se por uma vasta região.
Na década de 1950, o então território do Rio Branco passou a colonizar nordestinos em territórios indígenas, a colônia Braz de Aguiar, que originou a cidade de Cantá, ocupou as margens do rio Sucurijú. Alguns moradores de Tabalascada nasceram neste rio e foram obrigados a se mudar. 

 O NOME TABALASCADA NA VERSÃO DOS COLONOS

Na cidade de Cantá encontramos o Cearense Oswaldo, um dos primeiros a chegar na antiga Colônia e contou sobre a época dos assentamentos na visão do Colôno.
{...} Aqui era colônia para cearense (Braz de Aguiar, foi um grande professor) aqui só existia fazenda de gado. A gente produzia e não tinha para quem vender. O governo pagava para gente vir para cá. Quando foi em 1951 veio a verba para a gente se instalar. Aqui já existia Tabalascada, Malacacheta e Canauanim. O general Rondon veio para cá e pegou os índios mais brabo e jogou aqui. Vão se lascar e virou Tabalascada. Aqui foi loteado na beira do sucurijú, vieram 18 famílias na Tabalascada existia o Luiz que era o tuxaua e outros, Constantino, o Demétrio, não tinha para onde ir, a gente ía para Tabalascada comprar farinha, e eles viam para cá.
Neste relato temos uma hipótese sobre a motivação do Topônimo Tabalascada. A TABA que é a aldeia indígena na língua geral amazônica e o particípio passado do verbo Lascar de origem portuguesa, por tanto um Topônimo hibrído. Os wapixanas também relatam essa motivação para o nome da maloca, assim como mais duas versões ligadas a Taba como oriunda de Tábua.

O NOME NA  VERSÃO DOS INDIOS 

A outra versão é a do homem que tirou as tábuas para fazer Canoa (Seu Cosmos) tava tudo no jeito, foi em busca de carro de boi para levar as tábuas para o rio, quando ele veio buscar as tábuas, estavam rachadas, e aí chamou o lugar de tábua lascada, essa madeira chamava-se Baskary. A terceira versão, quem contou foi o Vovô Americo, logo depois da construção da ponte dos Macuxis, os carros de boi passavam por aqui, como aqui alagava colocavam as madeiras para passar por aqui, só que as tábuas não aguentavam e lascavam e ficou Tabúa lascada’(informação verbal). O missionário Mauro Wirth gravou o topônimo em 1937 levando em consideração a noção dada pelas as histórias do último relato, Tábua lascada, uma vez que passou pelo lugar antes da instalação da colônia Agrícola. É possível que a motivação original seja da madeira Baskary, que com um tempo racha e lasca. Neste sentido, em pleno século XX, temos nesta hipótese a força da língua geral amazônica na substituição de Tábua por Taba.
Em relação ao antigo nome da maloca, encontramos no relato de dona Raimunda Cruz o nome em Wapixana ‘’Mukuruwa’u, ‘igarapé do Arumã, que originou o Mukuru, ‘Arumã. Na carta de Boa Vista, (Exército 1980) encontramos este termo topônimizado exatamente na área ao Sul da terra indígena de tabalascada onde encontra-se a casa de dona Raimunda. Entretanto, o nome não se fossilizou entre os wapixanas, prevalecendo o nome exogêno. Na década de 1950 houve ainda o movimento para modificar o nome de Tabalascada para Santo Amaro, provavelmente sugerido pelos missionários, mais os wapixanas não cederam e o Santo Amaro ficou apenas como o nome da igreja da maloca. Sobre a motivação do topônimo que se cristalizou entre os wapixanas optamos pela versão da Tábua-lascada, visto que é a mais corrente entre os informantes, além de o Beneditino Mauro Wirth, também o ter gravado desta forma. Nas lendas wapixanas, que o missionário traduziu este sempre ultilizava termos em Tupí frente ao português, ora, por que neste caso foi diferente? provavelmente pelos wapixanas da época terem lhe confirmado a motivação. Neste contexto, com um tempo, como vimos a Tábua=lascada transformou-se em tabalascada, tendo como inspiração a manufatura da madeira. Em wapixana esse tipo de madeira trabalhado é designado por Parank, com o passar do tempo, esta madeira sofre ação das intemperes e começa a lasca-se, que os wapixanas chamam de Tadaukal. Desta forma o topônimo em wapixana é Paranktadaukal

Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghHgjKVeSt4OxYnPBIprHtPQshS3uFYRf-7ZPL-l59FKySAA2iIQoS-Rr0JNstK6G9hoySu6bv4WNc64nYvcwveVHZ9EtRzN9gPuPr4BrSkL4w_KIqXTgQHU_vzb1Bkm33fq34-dXK60Gi/s320/terra+tabalascada.png
MAPA DA TERRA INDÍGENA TABALASCADA
 Referências Bibliográficas:

 CARNEIRO, j. jeannine, A morada dos Wapixanas - Atlas Toponímico Indígena da serra da lua (RR). Dissertação de Mestrado. USP. São Paulo, 2007.






PRONOMES E DIALÓGO EM WAPICHANA




Os pronomes são pronomes pessoais, demonstrativos e pronomes interrogativos

Pronomes livres

Ungary – Eu
Pugary – Tu, Você
Yryy – Ele
Uruu – Ela
Waynau – Nós
Ynau – Vós, Vocês
Inhau – eles, elas

Dialógo em Wapichana

Kaimen Pukudanaa?
 – BOM DIA!

Uu, pukudanaa!
 Bom dia!

Kaimen chipyn?
– BOA TARDE!
Uu,  chipyn?  
- boa tarde!

Kaimen Pugary?
– Tudo bem com Você?

Uu, Kaimen
 -Sim, tudo bem!

Kandii pytuman?
O que você stá fazendo?

Um  Kaidinhan!
 Estou trabalhando

Kandíi pyaindiun
– o que você quer?

Ungary naydap pygary
- Eu gosto de você

Ungary aunaa naydap pugary
– eu não gosto de você


Ty yry untyzan parakary?
– possobebercaxirí?

Unnikea’ azun kupay piriricket kariwei
 – eu quero comer peixe frito

Undaru dipedan kapaxi dynaa
-minha mãe moqueou carne de tatu

Pytyzan parakary ma’uska’u?
– você tomou caxiri forte

Uruu naydap Yryy
- Ela gosta dele


Ungary dimen
– Eu corri

Pugary kunaypan-
 tu dança
Yryy kaydinhan
– ele trabalhou

Waynau tuminpen
 – nós estudamos

Ynau taypan
 – vós tocais

Inhau paraypan
– eles varreram


Ungary kaawan kunaykii
– eu cheguei alegre

Ungary kunaiki kidian wakamuu.
  Hoje estou alegre

Awyn ydary’u
– olho grande

Pydaku kaniribe’u –
 tua boca é suja



quinta-feira, 7 de março de 2013

REGIÃO INDÍGENA SERRA DA LUA-RR


A região indígena da serra da lua está localizada na porção centro-leste do Estado de Roraima Brasil, na região fronteiriça com a república cooperativista da Guyana. A serra da lua é um imenso maciço rochoso formado principalmente por material granitíco e quartizito, que faz parte do complexo Guianense. A serra se destaca na paisagem por atingir mais de 1000 m de altitude e ser um divisor natural entre as pediplanícies do rio branco ao norte e a floresta Amazônica ao sul. As 17 malocas que compõem a região indígena são hoje o centro geográfico do atual território wapixana.
Os limites da região são os rios Tacútu, ‘’Takutuwa’u’’, ao norte e leste e o branco, ‘’Wauz’, a oeste os rios secundários da bacia do branco são os Quitauaú, ‘’kuituwa’u, urubu ‘Watuwa’u, Jacamim Namatiwa’u, e arraia Dybaruwa’u. há diversos igarapés que alimentam estes e estão espalhados pelos campos e pelas serras. Seu nome certamente vem da tradução do topônimo wapixana Kayzdyky’u, no qual Kayz é lua e dyky’u Serra. Henri Coudreau, em 1887 também documentou em campo juntos aos wapixanas os mesmos termos. Ele relatou dos antigos habitantes do setor norte da serra, os ‘’Aturaiú’’ histórias sobre a serra da lua: ‘’Esta serra tem bem 1500 m de altitude absoluta. Ela inspira os atorradis um ar supersticioso, a montanha é maldita. Não há pessoas lá, ninguém vai caçar, pois eles tem medo. Há tribos de kanaimé, os chiricoumes’’.
Verdade ou não, até hoje na serra da lua não encontramos wapixanas, ou qualquer outra etnia. Não obstante, sua magnificência inspira os indígenas a respeitá-la e não incomodá-la. Dentre todos os wapixanas entrevistados, apenas um havia subido a serra e, mesmo assim, uma única vez, visto que a viagem é longa e penosa. Há oito dias de viagem pelo rio Tacutú chega-se bem próximo à terra indígena de Jacamim região sudeste da serra da lua. Francisco Xaviern Ribeiro de Sampaio (1777), dedica algumas páginas de seu trabalho às expedições espanholas no território do rio branco e concluiu com certa irônia que ‘’a busca do El dourado é o verdadeiro motivo dos espanhóis invadirem o território do rio branco.
O pesquisador Koch-Grumberg diz que os ‘’Wapixanas entraram há anos no território dos aturaiú, uma tribo, como aquela aruak, assimilando-lhe a língua e formando esse grupo dialetal’’. O grupo do qual trata o pesquisador alemão é o Aturaiú
.
texto retirado de Caderno de Estudo dos Wapixanas de João Paulo Jeannine Andrade Carneiro.