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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

NAPOLEÂO E OS CANAIMÉS





Essa história foi contada pelo meu tio Zé neves que conhecia histórias antigas e me contou, antes de morrer. Existia um homem que se chamava Napoleão ele era macuxi e morava na região de Normandía numa pequena maloca de poucos habitantes, ele vivia da caça e da pesca e morava sozinho em uma pequena casa dentro da maloca. Numa certa tarde Napoleão estava fazendo algumas flechas em sua caça quando apareceram em sua casa cinco homens e um garoto que aparentava ter uns dez anos mais ou menos, e também tinha um mais velho que pela sua fisionomia deveria ter uns sessenta anos, eles estavam de passagem e pediram hospedagem na casa de Napoleão, ele na sua engenuidadade os recebeu com muita hospitalidade permitiu que os mesmos se hospedassem em sua casa naquela noite.
            Ä noite Napoleão ofereceu uma damurida de peixe que ele tinha acabado de fazer, e no decorrer da janta ele começou a fazer algumas perguntas para aqueles viajantes, mas somente o mais velho conversava com ele, pois aqueles homens eram índios wapichanas e não falavam o português, mas o velho, porém, falava também o macuxi e então facilitou o diálogo entre os dois. O velho wapichana contou a Napoleão que eles estavam viajando para a Guiana Inglesa e que iriam fazer algumas compra como machado, terçado, foice, enxada e outras coisas, e em suas bagagem levavam muita bola de fio, fio de algodão tecido a mão, Napoleão ficou interessado na conversa, pois, ele também possuía muitos fios de algodão que sua mãe tecía e pensou que pudesse ir com eles até a guiana trocar esses fios por algumas coisa. A conversa naquela noite foi longa, e o velho wapichana concordou que Napoleão fosse com eles naquela viagem, e ele disse que sairiam cedo lá pelas quatro da manhã, Napoleão se preparou e foi até a casa de seus pais avisar que iria até a Guiana.
            Pelas quatro da manhã os homens saíram e Napoleão os acompanhou, a viajem seria longa, pois todos iam a pé, eles caminharam por um longo caminho até chegarem a beira de um igarapé, pararam para comerem alguma coisa e descansaram um pouco em baixo das arvóres, os homens comunicavam entre sí e Napoleão não conseguia entender nenhuma palavra, depois que descansaram o mais velho começou a falar algo para os outros e ele tirou de dentro de uma Broaca uma pequena batatinha rôxa e pediu que os homens passassem na batata de suas pernas e no solado dos pés ele pediu que Napoleão passasse também, ele perguntou para quê serviria aquilo, o velho respondeu que era para não ficarem cansados e nem sentir sede. Depois que o velho passou a batata na perna de Napoleão, ele sentiu sua perna adormecer e leve, muito leve e quase não sentia suas pernas e seus pés, a viajem continuou e Napoleão sentia que não estava caminhando e sim flutuando no ar atravessaram o rio Tacutú em questão de horas e chegaram em uma maloca já dentro da Guiana, ficaram acampado no pé de uma serra, a tarde eles saíram rumo a maloca dizendo que iriam procurar comida e Napoleão foi junto com eles, ao chegarem na maloca viram uma casa na beira de uma ilha e lá tinha uma menina que puxava água do poço o velho mandou que um dos homens fosse até lá para ver alguma coisa e os outros ficaram esperando lá, o homem voltou em seguida e disse algo para o velho ele balançou a cabeça e pediu que o menino fosse com ele, os dois seguiram em direção da casa, os outros ficaram observando de longe, Napoleão tirou a vista por alguns minutos, mas ao olhar novamente avistou dois tamanduás um grande e um pequeno assustando a menina, ela desmaiou e os outros correram pra lá napoleão foi junto com eles, ao chegar lá viu o velho falando na língua com o menino ele dava instruções para que ele cortasse a língua da menina, os pulsos e o pescoço.
            Naquela hora Napoleão percebeu que ele estava no meio dos Canaimés e que o mais velho estava ensinando o menino a matar gente, ele ficou muito nervoso e pensou em sair correndo, mas o velho o chamou e disse que ele teria que ajudar a matar também a menina, pediu que Napoleão pegasse folhas de caimbé e enfiasse na bunda dela, Ele disse que não podia fazer aquilo, o velho o ameaçou e disse a ele que se não fizesse eles o matariam ali mesmo. Contra a vontade Napoleão fez o que o velho pediu a ele, e os outros riam e maltratavam da menina, mas o menino era o que mais fazia mal a ela. Depois que o trabalho foi feito eles voltaram para onde estavam acampados, Napoleão estava com muito medo, pois estava no meio dos bichos, no meio dos temidos rabudos ele ficou ali sem fazer nada calado. Eles ficaram ali durante três dias no pé da serra, não comiam nada, só bebiam água, somente o mais velho saía a noite.
            Passaram-se três dias e os canaimés estavam alegre naquele dia, conversavam muito e riam muito, o velho se aproximou de Napoleão e disse a eles que aquela noite eles iriam beber e comer  muito, Napoleão não conseguiu entender o que ele quis dizer. Quando chegou a noite o velho disse que estava na hora e todos saíram em direção de uma estrada e chegaram no túmulo da menina que estava enterrada debaixo de um pé de caimbezeiro, os bichos começaram a cavar e Napoleão presenciou algo que nunca tinha visto em sua  vida, quando terminaram de cavar ele viu o cadáver da menina que se levantou por ela mesma e trouxe em suas mãos uma pequena cuía, seu corpo começava a soltar a salmôra do corpo, a pele se soltava e toda a água de seu corpo estava saindo. A menina pegou a cuía e deu ao velho ele pego em suas mãos e deu ao menino que pegou e em seguida tomou aquele liquído, ele foi repassando aos outros em seguida ele viu o menino se transformar em porco do mato e saiu correndo, ele viu outro que se transformou em raposa. A cuía chegou até Napoleão e o velho falou a ele que teria que tomar também, ele pegou a cuía e olhou dentro dela e tinha um liquído esverdeado semelhante ao caxirí e viu também alguns Tapurús (larvas) que rodavam dentro, ele estava com muito nojo, porém o chefe dos canaimés o obrigou a tomar e ele tomou, o fedor era horrível, mas porém, o gosto era muito doce parecia caxiri maduro quando levanta bem docinho.
            Depois que tomou aquele liquído Napoleão sentiu algo estranho dentro da sua mente e do seu corpo, em sua mente escutava muitas vozes de agônia, risos e pavor, ele parecia estar em transe, bêbado, drogado ou algo parecido, ele olhou para seus braços e viu que estava criando pelos e todo o seu corpo também, parecia que todo o seu corpo estava se quebrando, ele também estava criando rabo, sentiu que estava se transformando em macaco e saiu correndo para a serra, lá viu muitos animais de várias espécies, todos reunidos como se estivessem festejando alguma coisa, todos imitavam os bichos do mato. Napoleão acordou no outro dia com sua cabeça que estava para estourar de muita dor, ao seu lado estava apenas o velho chefe dos canaimés que somente achava graça de Napoleão, ele disse a Napoleão para que nunca contasse o que tinha vivenciado naqueles dias, pois se ele contasse eles iriam atrás dele para mata-lo. Napoleão voltou sozinho para sua maloca e ainda não conseguia acreditar naquilo que tinha acontecido com ele, parecia tudo um pesadelo, algo misterioso e inexplicável, e ele tinha certeza que se ele contasse aquilo ninguém jamais acreditaria em sua história.
            Napoleão passou alguns anos guardando aquele segredo, porém um dia resolveu contar a seu filho mais velho e disse a ele que eles o matariam, mas se isso acontecesse era para eles vingarem sua morte e esperar os canaimés em seu túmulo. Depois de uma semana que Napoleão contou o segredo os Canaimés começaram a persegui-lo até que um dia conseguiram mata-lo, seu filho já sabia o que tinha que ser feito, chamaram um pajé que sabia fazer oração e ele veio até o corpo de napoleão e pediu que a família jogasse soda caústica em cima do corpo e pediu que o enterrasse, mas os filhos foram fazer virgilia no cemitério armados com espingarda uns de bala de cêra, outros com chumbos mesmos. Ao terceiro dia, a noite os rabudos vieram para fazer a festa, começaram a cavar e quando o primeiro começou a beber a salmôra teve uma suspresa sua boca começou a derreter por causa da soda caústica, os outros também ficaram do mesmo jeito, os filhos e parentes de Napoleão tacaram chumbo e cêra no peito, na cabeça, na barriga e nas costas dos Canaimés, tentaram correr, mas já era tarde, eles fizeram uma grande fogueira e queimaram todos os canaimés que viraram cinzas, depois de algum tempo várias plantas nasceram no lugar onde os bichos foram mortos.
            Essa história foi contada pelo meu tio Zé neves Solon que conheceu o filho de Napoleão quando trabalhava na fazendo dos brancos como vaqueiro, depois desse feito o filho de Napoleão também foi 
perseguidopelos canaimés, mas isso já é uma outra história.







ESSA HISTÓRIA ESTÁ REGISTRADA EM CARTÓRIO E TODOS OS DIREITOS AUTORAIS PERTENCE A IVONIO SOLON, EM CASO DE PESQUISA A FONTE DEVERÁ SER CITADA.

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