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sábado, 25 de abril de 2015

Acusados de Tentar Matar Canaimé na Raposa serra do Sol São Julgados na Comunidade Maturuca

Valmir da  Silva Lopes um dos indígenas acusados de tentar matar outro índio em Janeiro de 2013, no Município de Uiramutã, Nordeste de roraima, alegou durante seu depoimento no Jurí popular indena que ocorreu nessa quinta feira (23) que o crime aconteceu, pois ele e seu irmão, Elzio da Silva lopes estavam se defendendo contra o espiríto maligno denominado 'Canaimé'. Elzio que também é Réu no caso, confessou aos jurados que golpeou o pescoço da vitíma com uma faca de "cortar laranja". O Jurí começou na manhã desta quinta feira na comunidade de Maturuca na terra indígena Raposa Serra do Sol, localizada no município onde ocorreu o crime.
  Segundo o Tribunal de Justiça de Roraima "TJ/RR", o julgamento é inédito no Brasil, pois ocorre em área indígena e o Jurí é composto exclusivamente por índios. Desde que o caso chegou a público a defesa foi afirmou que o crime foi motivado pela crença dos Réus de que a vitíma ANTONIO ALVINO PEREIRA estava 'denominada'. pelo espiríto da entidade maligna 'Canaimé'. O Jurí que aconteceu de forma tranquila pela manhã, ficou tenso durante o depoimento de Elzio.
   Ao ser perguntado por qual motivo desferiu um golpe de faca contra a vitíma Elzio respondeu que o fez 'porque foi ameaçado'. O Promotor do caso Diego Oquendo, questionou Elzio sobre a tese do 'Canaimé'. O Réu foi orientado por seu advogado a não responder mais pergunta. Diante disso, a promotora se recusou a fazer novos questionamentos e o depoimento de Elzio foi encerrado.
    Durante a oitiva do segundo Réu, Valdemir da Silva Lopes, ele esclareceu que estava com seu irmão e um terceiro homem, que é testemunha ocular do fato, no bar onde o crime ocorreu, ele afirmou que a vitíma chegou "puxando conversa" é que a mesma mantinha "postura agressiva". no depoimento, Valdemir afirmou que a Vitíma havia dito ao terceiro homem que "matava crianças, oque teria gerado desconfiança nos irmãos". Valdemir relatou ainda durante o depoimento que cerca de um mês antes da tentativa de homicidio, um lider indígena e uma criança havia sido assassinado pelo 'Canaimé', pois, segundo ele tinha marcas no percoço e folhas na gargantas, algo caracteristico da entidade, conforme a crença dos indígenas, diante da informação do homem que Antônio Pereira seria um Assassino, os irmão concluiram que a vitíma estava dominada pelo espiríto maligno e o atacram com uma faca. Encerrando o depoimento dos Réus, o Jurí seguiu com os debates do Ministério Público de Roraima e da defesa dos acusados da tentativa de homicidios.


JULGAMENTO
30 indígenas, sendo 5 suplentes, das étnias macuxi, ingaricó, Patamona e Taurepang foram escolhidos para participarem do Jurí e na manhã desta quinta, 7 foram sorteados para compôr o quadro de jurados. Segundo o Juíz responsável pelo caso, Aluízio Ferreira os lideres indígenas da região se reuniram em assembléia e optaram junto pelo jurí popular. "em dezembro do ano passado, pelo menos 270 foram favorávelis a Audiência, a realização do Jurí é resultado de uma escolha coletiva, não é etnocentrismo ou imposição.

O júri foi presidido pelo juiz Aluízio Ferreira Vieira, titular da comarca de Pacaraima, na acusação o promotor Carlos Paixão e na defesa dos réus o defensor público José João e a advogada Thaís Lutterback. O corpo de jurado foi composto por indígenas da região, por ordem de sorteio.
A sessão que começou às 9 horas terminou às 23 horas, e resultou na absolvição do réu ELZIO.S e a pena de reclusão de três meses por lesão corporal leve do réu ALVINO.L, e responderá o processo em liberdade.
O juiz Aluízio Ferreira Vieira, diz que decidiu junto com a comunidade levar o julgamento para dentro da terra indígena, no intuito de respeitar a tradição cultural dos indígenas.
“Por ser um crime doloso contra a vida seria levado a julgamento por um júri popular na sede de Pacaraima, com jurados não índios. No entanto, verificando o mérito do processo propriamente dito, e também a razão alegada pelos réus para praticar a tentativa de homicídio contra outro indígena, decidimos faz o júri dentro da comunidade, com todo corpo de jurados composto por índios”, disse o magistrado.
 Segundo o coordenador das Serras Zedoeli Alexandre o júri foi definido em parceria com o Tribunal de Justiça de Roraima e várias lideranças indígenas para que a sessão acontecesse dentro de uma terra indígena. Para ele, o julgamento “conforme a lei dos brancos” reforçará a importância da forma de justiça dos indígenas que não buscam só a punição dos agressores, mas também para que essa pessoa não ofereça mais riscos à comunidade.
“Nós queremos nossa autonomia e que a nossa lei seja respeitada, pois, nas comunidades indígenas quem agride outra pessoa ou comete algum crime, além de ser punido, tentamos recuperá-lo com trabalhos comunitários e até mesmo, se for o caso, o banimento da comunidade, além do afastamento da família que pode durar anos”.
De acordo com o coordenador, essa forma de julgamento e punição  está prevista no artigo 231 da Constituição Brasileira e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) “ é uma reivindicação antiga dos indígenas ao Governo Federal e a Justiça Brasileira  para reconhecer as formas indígenas de julgamento e punição”, pontuou Zedoeli.
A princípio, o crime divulgado na mídia foi relacionado ao Canaimé, no qual a vítima figurava como se fosse essa entidade que é conhecida pelos indígenas como muito brava e perigosa que se manifesta geralmente por meio de animais ou até mesmo pessoas estranhas. O que durante o julgamento foi descartado tanto pela defesa, quanto pela acusação.
O promotor de Justiça Carlos Paixão disse que vai recorrer da decisão e questionou a escolha dos jurados e destacou ainda, que utilizar a absolvição com o argumento de Canaimé abre precedentes para outros crimes.
“Absolver pessoas que matam utilizando a figura do canaimé vai autorizar que outros criminosos mantenham essa questão dizendo que foi por culpa do canaimé,  e isso é muito subjetivo”, enfatizou.
Para o tuxaua do Maturuca e assessor dos tuxauas da região das Serras, Jaci de Souza esse crime específico não está relacionado ao Canaimé e sim ao consumo de álcool pelos envolvidos e segundo ele é necessária maior fiscalização dos órgãos competentes para coibir essa prática.
“Já denunciamos há anos a preocupação quanto à venda bebida alcoólica nos bares do município do Uiramutã para os indígenas, pois se bebida fizesse bem, isso não teria acontecido. Vivemos numa região que faz fronteira com a Guiana e outra coisa que nos preocupa também é à entrada de drogas na região”, frisou.


CANAIME
    Segundo a Antropóloga Leda Litão Martins, 'Canaimé' é um ser maligno. "é uma entidade muito poderosa que tem corpo fisíco e pode viajar longas distâncias. Uma pessoa pode ser ou pode virar um Canaimé. Ninguém conhece o Canaimé, ou você é ele ou você é "vitíma" dele, explicou.
Blog Roraima de Fato

FONTE: G1/RR
RÁDIO MONTE RORAIMA

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