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domingo, 23 de março de 2014

A origem da Terra Indígena Malacacheta ‘PYRATA’DIK

Pela a análise das fontes é a mais antiga das malocas da região serra da lua, entretanto sua homologação é recente, de janeiro de 1996. Demarcada com uma área de 28.631 há. Atualmente vivem na comunidade 780 indios, em sua grande maioria wapixanas e alguns macuxis. Sua proximidade com a capital do Estado condição que faz a malacacheta o centro político educacional da região serra da lua.
O professor de Língua Wapixana Odamir de Oliveira, estima que a fundação da malacacheta seja de 1880, pois seus pais, avós e bisavós nasceram nestacomunidade. Neste tempo, final do século XIX, o viajante frânces, Henri Coudreau, passa uma longa temporada nessa maloca e constata que ela é pelo menos 100 anos mais antiga do que a aferição feita pelo professor. A antiga malacacheta surge na borda norte do rio ‘Cuit auu (atual rio Quitauaú ) do wapixana kuítu, ‘lagarto’ e Wau, ‘rio’ com a morte do tuxaua os moradores migraram para o norte também na borda de um curso d’ água o igarapé caual do wapixana kawaro’ ‘cavalo’. A nova malacacheta encontra-se  também ao norte, entre as serras do surrão e do Uandrá. Entretanto, como bem ateviu Coudreau a mudança de maloca está relacionado aos antigos ritos mortuários dos wapixanas. O viajante diz ainda que a velha malacacheta estava num lugar melhor , entretanto a nova malacacheta tem a vantagem de não ser maldita, até a morte do atual tuxaua, porém o viajante percebeu que esse importante traço cultural desapareceu ao longo dos anos.
A ORIGEM DO NOME MALACACHETA
O nome tem relação com o granito das serras circundantes , chamou tanto a atenção dos wapixanas que nomearam a sua maloca com o minério como relatado pelo viajante frânces, o minério encontra-se no fundo do leito, que é visível somente durante o verão quando rio Quitauaú está mais seco. Quase todos os moradores confirmaram que o nome malacacheta vem do minério que tem em grande quantidade no rio Quitauaú. Entretanto , a sua descoberta deu-se por um branco chamado ‘Pancho’ que veio estudar a região e encontrou grande quantidade minério. O pesquisador então levou para ver se tinha valor comercial, os índios criaram uma grande expectativa de ganhar muito dinheiro com aquele minério, no entanto descobriram que a malacacheta não tinha valor nenhum, decepcionados os wapixanas batizaram o minério e consequentente sua maloca de PYRATA’DYK, (do wapixana : Pyrata, ‘dinheiro’ e Dykei, ‘fezes’) literalmente a “merda de dinheiro”.
Segundo o Professor Odamir, antes da chegada dos brancos (Karaiwa)  a maloca era conhecida com o nome de Papagaio Waruna’u. Com a chegada dos brancos e a descoberta da malacacheta o nome mudou.
Os campos do rio branco foram extremamente cobiçados para criação de gado, desta forma o território wapixana foi quase que totalmente transformado em fazendas. No caso da malacacheta, existia um poderoso comerciante de Manaus chamado Sizenando Diniz, que se dizia donos daquelas terras. O pai do wapixana Leandro da Costa, que foi criado pelo comerciante e sua mulher.
“Com 15 anos me lembro me lembro da malacacheta, tinha pouca gente 10 famílias, antigamente era rico em caça, as terras eram da dona santinha, meu pai foi criado por ela diziam que ela era o diabo em pessoa, mulher de seu Sizenando Diniz. Segundo meu pai conta foi Rondon que demarcou o território wapixana, quando seu Sizenando morreu o gado começou a morrer (50 mil cabeças), sua mulher propôs a venda para o tuxaua Constantino Viana, pai de Julião Viana. Seu Constantino ajuntou uns 10 sócios para comprar a própria terra. Isso foi mais ou menos em 1935. Em 1970 foi minha vez de contribuir com 20 contos para pagar o INCRA. A FUNAI chegou depois. “informação verbal de Leandro da Costa”.
“Durval Magalhães veio aqui e disse que os índios não precisavam do lavrado, somente da mata. Só quando o Marechal Rondon veio é que a terra ficou pra gente. Em 1979, botei minha roça, em 1880 comecei a acompanhar os trabalhos do tuxaua Raimundo Cruz. Em 1985 assumi a liderança da comunidade, primeiro os índios pagavam para o IBRA, depois virou o INCRA. Para ter a própria terra. Em 1974, teve o projeto Rondon, vindo de uns paulistas que disseram que não precisava pagar a terra. Em 1987 começou a demarcação, mas antes em 1987, os índios fizeram um projeto de demarcação que não abarcava nada só um pouco de terra o resto era para os brancos. Em 1990 voltei como tuxaua até 1998, em 1992/3 entramos na mata durante 20 dias com 02 turmas de 16 pessoas cada. Quando entregamos um reconhecimento da T.I para o Valmir em 1989, já estava tudo perdido, pois ficou tudo para os brancos. Fui querer recuperar a nossa terra, , os parentes disseram que não, estava tudo bem como estava. Eu queria até a cabeceira do jenipapo com igarapé grande, nós vamos brigar por isso em terra mesmo. “Informação verbal do makuxi Simeão Messias)


Segundo Cirino (2000) em 1970, os wapixanas da malacacheta reivindicaram a demarcação da área, porém se depararam com o impasse de seus próprios pares serem os posseiros da própria terra, a situação era conflituosa entre os wapixanas, pois havia um grupo que queria a demarcação e outros não. A FUNAI interviu e sugeriu ao grupo comprador passar para o órgão a posse da terra para em seguida demarcar em favor da comunidade Malacacheta, como os impostos devidos estavam atrasados, a FUNAI pressionou o grupo a ceder os direitos da posse, livrando-os dessa obrigação. Afora a pressão da comunidade, acuado o grupo resolve ceder os direitos  legais a FUNAI, não obstante, a objeção de alguns componentes que revoltados migraram para Boa Vista (Cirino 200 pg, 169/170).


Escola da comunidade que leva o nome de SIZENANDO DINIZ
FONTE: João Paulo Jeanine Andrade Carneiro a morada dos wapixana Atlas Toponimico da região Indígena Serra da Lua.

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