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sábado, 1 de outubro de 2011

HISTÓRIAS DE CANAIMÉS EM LITERATURA DE CORDEL


01
Aqui conto essa história
Eu ouvir quando criança
Quem Contou foi minha Avó
Ainda está em minha lembrança
Da origem do Canaimé
Isso pra mim é herança

Vovó Júlia me contava
Que um pajé tinha contado
De como surgiu no mundo
O mito do canaimé malvado
E isso aconteceu
Há um século passado

Ela ouviu essa história
De um tal de bonitim
Ele era um pajé
Seu nome era Joaquim
Mas era mais conhecido
Por Joaquim bonitim

Ele conhecia a história
E tinha sabedoria
Hoje vou repassar
Em forma de poesia
De história de Canaimé
De mistério, encanto e magia


02

Há muito tempos atrás
Existia pajés maus
Fizeram pacto com demônio
Em um grande ritual
Adquiriram poderes
E força sobrenatural



Eles usavam um livro
E o livro era insano
Era um livro de maldade
Era de São Supriano
E quem era seus inimigos
Cometia um engano



Eles ficavam invisíveis
Podiam virar toco e pau
Assumiam qualquer forma
Podiam virar animal
Uma força imaginável
E só faziam o Mal

Quando esses pajés morreram
Suas almas viraram Fel
Ficaram vagando na terra
Por que foram bem cruel
E foram morar nas serras
Por que não subiram pro céu



03

Para o Espiríto adormecer
Precisava descansar
Ele encontrou uma planta
Deu-lhe o nome de TAJÁ
Ele ficou esperando
Para alguém lhe encontrar

Dizem que um certo dia
Um feiticeiro ingaricó
Encontrou essa tal planta
Quando um dia andava só
E ela lhe deu poderes
Se tornou um Maicó


A planta lhe deu poderes
Pra matar os seus rivais
Começou a matar gente
E ele queria mais
Quando queria ir longe
Transformava –se em animais



O Velho virava bicho
Corria pelo lavrado
Virava tamanduá
Corria pelo serrado
Perseguiu outros pajés
E todos viraram finados.

04

O tajá foi descoberto

Por um feiticeiro velho

Que virou o Canaimé

Virou lenda e mistério

Quem ousou desafiá-lo

Foi morar no cemitério



Ele matou muita gente

Foi agouro e espanto

Tornou-se o Senhor da Morte

Com magia e encanto

Assim surgiu Canaimé

E a Morte é seu Canto



Minha avó sempre falava

Da serra do kuando kuando

Era a serra dos rabudos

Que eu cresci sempre escutando

Lá a tribo dos canaimés

Eles foram aumentando



Mas quem ia nessa serra

era pra encontrar o Tajá

pra se tornar canaimé

Fazer o mal e matar

Os feiticeiros sabiam

Onde ela encontrar

05

Um dia os wapichanas

Procuravam um lugar

E vieram da Guiana

No Brasil vieram morar

Na Raposa serra do sol

No Uiramutã vieram acampar



Mas quando chegaram lá

Os Macuxis lá já moravam

E começou uma disputa

Por território demarcado

E os índios Wapichanas

Começaram ser caçados



Os índios Wapichanas

Eram um grupo de dois mil

Eram Nômades da Guiana

E migraram pro Brasil

Em buscas de novas terras

Acamparam na beira de um rio



Então começou uma guerra

Guerra sangrenta e frontal

Entre macuxi e Wapichana

Uma batalha tribal

E começou morrer gente

Morriam feito animal



06

E os índios Macuxis

Descobriram o tajá

E usaram essa planta

Preparados pra matar

E os índios wapichanas

Começaram a caçar



E os índios wapichanas

Começaram a morrer

De morte misteriosa

Não sabiam entender

Como isso acontecia

Não sabiam o que fazer



E os índios macuxis

Viraram Canaimé

E começaram a matar

Criança, homem e mulher

E enfiavam em sua bunda

As folhas de Caimbé



As mortes eram um mistério

Wapichanas estavam acuados

Eles estavam com medo

Todos estavam assustados

Só tinha uma solução

Fugir para o outro lado



07

No meio dos wapichanas

Existia um pajé

Uma noite bateu folha

E viu muitos Canaimés

Pediu pro seu povo ir embora

Dali tinham que dá no pé



E então naquela noite

Pajé fez uma oração

E pro pajé maruai

Pediu orientação

E com a sua resina

Fez uma defumação



Pajé também queimou

Os pêlos do Cuatá

Para matar os canaimés

Que estavam pra atacar

Quando sentiram o cheiro

E Começaram a gritar



Canaimé gritava doido

Com os gritos de horror

Apareceu tanto bicho

Numa noite de terror

E eles todos caíram

Quando pajé o defumou


 
08
Os wapichanas então fugiram
Pajé ia sempre na frente
Fazendo a defumação
Pra proteger os parentes
Muitos rabudos morreram
Naquela noite presente

Os wapichanas conseguiram
E tiveram muita sorte
Foram quase dizimados
E escaparam da morte
Dos macuxis canaimés
E fugiram para o norte

Eles migraram para serra
Que puderam chamar de sua
Com abundância em mata
E cunhatã correndo nua
Morada dos wapichanas
Chamada serra da Lua


Hoje o Canaimé

Está em toda região
Ataca várias malocas
Matando nossos irmãos
Eles são sanguinários
matam não tem perdão



Escutei outra história

Foi meu pai que me contou

A história de um pajé

Ele era seu avô

O seu nome era Aleixo

A serra da moça fundou



Ele curou muita gente

Por feiticeiro era temido

Muitas pessoas o procuravam

Ele era o preferido

Mas também por canaimé

O pajé foi perseguido



14

Um dia saiu pra pescar

Na beira de um igarapé

E sofreu um grande ataque

Por um grupo de canaimé

Ele morreu nesse dia

Debaixo de um caimbé



Teve um fato real

Do canaimé do Jacamim

Ele matou muita gente

Mas foi triste o seu fim

Ele foi esquartejado

Foi cortado em pedacim



O povo ficou revoltado

E fez uma grande besteira

Foram jogando os pedaços

Dentro de uma fogueira

Canaimé morreu queimado

Num dia de sexta-feira



Existiu também um homem

Chamado Napoleão

Ele viveu uma história

De aventura e ação

Viveu com os canaimés

Teve uma iniciação





15

Os Canaimés o pegaram

E ele viveu um drama

E eles levaram ele

Para o rumo da Guiana

E fizeram ele matar

Uma menina wapichana



Ele andou e comeu

E viveu com os canaimés

Ele viu morrer criança

Homem, velho e mulher

Eles andavam longe

Passavam puçanga no pé



E depois de algum tempo

Os canaimés o soltaram

Não conte nada a ninguém

Eles o avisaram

Pra não contar o segredo

E eles lhe ameaçavam



Mas depois de muito tempo

O segredo ele contou

E depois de uma semana

O canaimé lhe matou

Por que o grande segredo

Napoleão revelou


 
16
Um dia um wapichana
Foi derrubar sua roça
Tinha um pé de samaúma
A árvore era muito grossa
E ele fez uma ajurí
Pois sozinho não há quem possa

Mas ali naquela árvore
 Os bichos ali moravam
Era casa de canaimé
E a árvore derrubaram
E dali daquela árvore
Os canaimés expulsaram

Mas quando foi a noite
O homem foi perseguido
Canaimé fez um ataque
Matou seu filho querido
Essa foi a vingança
Do canaimé destemido

Também existiu um homem
Matador de canaimé
Seu apelido Mambira
O seu nome era Zé
Ele era Zé mambira
Matador de canaimé


17

Zé Mambira foi soldado

Foi escalado pra guerra

Ele era wapichana

Era filho dessa terra

Foi curado por seu pai

Que era pajé da serra



Ele pegou um costume

Talvez por que foi soldado

Quando saía de casa

Saía sempre armado

Sempre com uma espingarda

Revólver, faca ou terçado



Quando ele era criança

O seu corpo foi fechado

Para não ser perseguido

Para não ter mau olhado

E principalmente por bicho

Como o canaimé malvado



Ele podia ver

Canaimé como animal

Também em forma de gente

Pra ele era tudo igual

Pra ele era um dom

Era um dom natural



18

Um dia saiu para roça

Canaimé lhe atacou

Mas ele lhe viu primeiro

Seu terçado ele puxou

Ele partiu pro ataque

O bicho ele golpeou



Desde desse dia então

Zé Mambira não teve sossego

Ele via canaimé

Desde manhã logo cedo

Mas do bicho canaimé

Ele nunca teve medo



Zé mambira nunca soube

Quantos canaimé matou

E sempre essa história

Para todos ele contou

A história de Zé Mambira

De canaimé o matador



Pra matar um canaimé

Tem várias maneiras

Mas se for matar de tiro

Somente com bala de cera

Tem que ser no coração

E a morte é certeira



19

Quero que essas histórias

Não venha se perder no tempo

Que ela seja repassada

Cada hora, cada momento

A história do nosso povo

E dos nossos pensamentos



E Todas essas histórias

Pelos velhos foram contadas

As histórias de canaimé

Elas não foram inventadas

Eu apenas escrevi

Pelos antigos foram narradas



Depois que você ler

Você vai analisar

E eu não estou pedindo

Pra você acreditar

Mas a sabedoria dos velhos

Nós devemos respeitar



Me lembro daquele tempo

Nunca saiu da memória

Quando as crianças ouviam

Dos velhos as suas histórias

Bons tempos eram aqueles

Um bom tempo de glória



20

Quando a noite chegava

Nos sentávamos ao luar

Os velhos contavam histórias

As crianças iam escutar

E ficávamos até umas horas

Até o sono chegar



Tinha histórias de macacos

Da onça com o jabuti

História de canaimé

De pajé, de curumim

Curumim virou tatu

A história não tem fim



As histórias dos mais velhos

Já não tem mais atenção

Elas estão sendo esquecidas

Pela nova geração

Passatempo das crianças

Hoje é televisão


autor: ivonio Solon Wapixana