A terra indígena da tabalascada foi a penúltima a ser
homologada na região indígena da serra da lua, por meio do Decreto sem número
de 19 de Abril de 2005. Esta demora ocorreu por ser a terceira demarcação que o
governo federal fez na terra indígena. A terra indígena de tabalascada está no
extremo oeste da região serra da lua, situada dentro do município de Cantá e
conta com uma área de 13.014 há, com uma população de 680 habitantes, segundo o
último censo de 2014 em sua maioria wapixanas.
A maloca de tabalascada encontra-se a Beira da BR 432 que
liga Boa Vista ao cantá. sua localização é privilegiada em relação a demais
malocas da região, pela facilidade de transporte atá Boa Vista, pois há linhas
de ônibus diárias da capital até cantá, que passam pela maloca. Em função
disso, muitos indígenas de outras malocas optam por morar nela, para poder
estudqr em Boa Vista, ou memso trabalhar na Capital, e á noite, voltar para
maloca.
Esta aproximação dos centros urbanos com a maloca,
intensificou todos os tipos de tropas com os não-indios, de mercadorias a
valores culturais. Historicamente, situava-se a maloca a beira do rio branco
chamado pelos wapixanas simplesmente de ‘Rio’. Wauz. A wapixana Maria Madalena,
uma das mais antigas da maloca conta que.
{...} foram os brancos que nos empurraram para cá, pois a
gente morava mais para a beira do rio branco, quando me entendia o rio branco
era chamado de Wauz. Boa vista era chamada de KuwyPirer.
Todos os outros relatos confirmam esta migração para leste
do Wauz (Rio Branco), principalmente por causa dos fazendeiros, que como já
vimos, foram os grandes responsáveis pelo ‘’nomadismo’’ wapixana no último
século. Um dos informantes que vivenciou esse processo disse que os fazendeiros
que lugar de índios era no mato e não no campo. Por essa causa a maloca de
tabalascada está hoje no capão de mata, a única maloca da região indígena da
serra da lua que se situa a baixo dos 100 metros de altitude, exatamente
onde,via de regra, passamos a encontrar mata e florestas de galería. O primeiro
tuxaua da maloca foi José Ambrósio Amazonense, que segundo conta, falava a
língua geral amazônica. Deve ter chegado a região no final do século XIX. Na
maloca, casou-se com a wapixana Maria Júlia. Ao que tudo indica, seus
descendentes refugiaram-se para próxima da antiga maloca de Malacacheta.
(...) O primeiro tuxaua foi José Ambrósio meu Avô, ele era
Amazonense e falava a língua geral. Casou-se por aqui com minha avó wapixana
‘Maria Júlia’. Eles moravam nas margens do rio Branco e vieram para cá, pois lá
não havia mais mata. Antigamente, tudo aqui era malacacheta.
Os índios que fundaram a maloca vieram do Oeste, hoje
o fluxo migratório se inverteu, pois os wapixanas, agora, vem da Guiana, do
Leste. Com isto, a população da maloca, não para de crescer. Este crescimento
populacional é inversamente proporcional com relação a quantidade de terra e
seus recursos. Atualmente, Tabalascada sofre também com escassez de suas matas,
pois sua área é pequena para quantidade de gente. Há poucas espécies de vegetais
que são ultilizadas para sustentar as casas, assim como os buritis estão
perecendo pelo corte excessivos de suas palhas para a cobertura de casas.
No passado desta maloca, quase todos os habitantes morreram
em função de doenças que os índios não conheciam e, consequentemente, não
podiam curá-las. Desta forma essas mortes eram atribuídas a entidades malignas
chamada de Kanaimé. Esta entidade é definida como um ser humano com poderes
malignos e basta um breve encontro para a vitíma sucumbir ao seus poderes ele
pode também atuar em outras formas que não a humana, como onça, cobra, entre
outros animais. No caso da maloca de tabalascada o kanaimé foi identificado
como Chico Macaco um velho wapixana da maloca.
{...} as pessoas desta comunidade quase todos morreram por
causa do Chico macaco, kanaimé, ele matou minha mãe. Ela veio me carregando
pelo Jamaxim aí o kanaimé matou ela. Ele da um susto, aí tem que fazer o sinal
da cruz, quando minha mãe chegou da roça ela morreu, minha mãe e o nenên que
estava em sua barriga. (informação verbal)
{...} tinha muita gente aí as pessoas foram morrendo, pois o
kanaiméforam matando tudinho, todo mês morria gente. Eles viam da Guiana.
Pessoal ia ficando rôxo, quebrado, o pescoço quebrado, ficou pouca gente, eu
tinha 16/17 anos. (informação verbal)
{...} quando eu cheguei pra cá morreu muita gente na serra
grande, novo intento, malacacheta, Tabalascada, Cantá e foi o kanaimé. Parece
que foi o Chico macaco, ele matou meu pai, minha irmã. (informação verbal).
Através da narrativa de Maria Madalena (segundo relato)
podemos alferir que esta mortandade tenha ocorrido por volta dos anos de
1937/38, alguns anos antes da criação do território do Rio Branco em 1943. Pelo
último depoimento, percebemos que esta suposta epidemia de kanaimé espalhou-se
por uma vasta região.
Na década de 1950, o então território do Rio Branco passou a
colonizar nordestinos em territórios indígenas, a colônia Braz de Aguiar, que
originou a cidade de Cantá, ocupou as margens do rio Sucurijú. Alguns moradores
de Tabalascada nasceram neste rio e foram obrigados a se mudar.
O NOME TABALASCADA NA VERSÃO DOS COLONOS
Na cidade de Cantá encontramos o Cearense Oswaldo, um dos primeiros a chegar na antiga Colônia e contou sobre a época dos assentamentos na visão do Colôno.
{...} Aqui era colônia para cearense (Braz de Aguiar, foi um
grande professor) aqui só existia fazenda de gado. A gente produzia e não tinha
para quem vender. O governo pagava para gente vir para cá. Quando foi em 1951
veio a verba para a gente se instalar. Aqui já existia Tabalascada, Malacacheta
e Canauanim. O general Rondon veio para cá e pegou os índios mais brabo e jogou
aqui. Vão se lascar e virou Tabalascada. Aqui foi loteado na beira do sucurijú,
vieram 18 famílias na Tabalascada existia o Luiz que era o tuxaua e outros,
Constantino, o Demétrio, não tinha para onde ir, a gente ía para Tabalascada
comprar farinha, e eles viam para cá.
Neste relato temos uma hipótese sobre a motivação do
Topônimo Tabalascada. A TABA que é a aldeia indígena na língua geral amazônica
e o particípio passado do verbo Lascar de origem portuguesa, por tanto um
Topônimo hibrído. Os wapixanas também relatam essa motivação para o nome da
maloca, assim como mais duas versões ligadas a Taba como oriunda de Tábua.
O NOME NA VERSÃO DOS INDIOS
A outra versão é a do homem que tirou as tábuas para fazer
Canoa (Seu Cosmos) tava tudo no jeito, foi em busca de carro de boi para levar
as tábuas para o rio, quando ele veio buscar as tábuas, estavam rachadas, e aí
chamou o lugar de tábua lascada, essa madeira chamava-se Baskary. A terceira
versão, quem contou foi o Vovô Americo, logo depois da construção da ponte dos
Macuxis, os carros de boi passavam por aqui, como aqui alagava colocavam as
madeiras para passar por aqui, só que as tábuas não aguentavam e lascavam e
ficou Tabúa lascada’(informação verbal). O missionário Mauro Wirth gravou o
topônimo em 1937 levando em consideração a noção dada pelas as histórias do
último relato, Tábua lascada, uma vez que passou pelo lugar antes da instalação
da colônia Agrícola. É possível que a motivação original seja da madeira
Baskary, que com um tempo racha e lasca. Neste sentido, em pleno século XX,
temos nesta hipótese a força da língua geral amazônica na substituição de Tábua
por Taba.
Em relação ao antigo nome da maloca, encontramos no relato
de dona Raimunda Cruz o nome em Wapixana ‘’Mukuruwa’u, ‘igarapé do Arumã, que
originou o Mukuru, ‘Arumã. Na carta de Boa Vista, (Exército 1980) encontramos
este termo topônimizado exatamente na área ao Sul da terra indígena de
tabalascada onde encontra-se a casa de dona Raimunda. Entretanto, o nome não se
fossilizou entre os wapixanas, prevalecendo o nome exogêno. Na década de 1950
houve ainda o movimento para modificar o nome de Tabalascada para Santo Amaro,
provavelmente sugerido pelos missionários, mais os wapixanas não cederam e o
Santo Amaro ficou apenas como o nome da igreja da maloca. Sobre a motivação do
topônimo que se cristalizou entre os wapixanas optamos pela versão da
Tábua-lascada, visto que é a mais corrente entre os informantes, além de o
Beneditino Mauro Wirth, também o ter gravado desta forma. Nas lendas wapixanas,
que o missionário traduziu este sempre ultilizava termos em Tupí frente ao
português, ora, por que neste caso foi diferente? provavelmente pelos wapixanas
da época terem lhe confirmado a motivação. Neste contexto, com um tempo, como
vimos a Tábua=lascada transformou-se em tabalascada, tendo como inspiração a
manufatura da madeira. Em wapixana esse tipo de madeira trabalhado é designado
por Parank, com o passar do tempo, esta madeira sofre ação das intemperes e
começa a lasca-se, que os wapixanas chamam de Tadaukal. Desta forma o topônimo
em wapixana é Paranktadaukal
Referências Bibliográficas:
CARNEIRO, j. jeannine, A morada dos Wapixanas - Atlas Toponímico Indígena da serra da lua (RR). Dissertação de Mestrado. USP. São Paulo, 2007.