01
Aqui
conto essa história
Eu
ouvir quando criança
Quem
Contou foi minha Avó
Ainda
está em minha lembrança
Da
origem do Canaimé
Isso
pra mim é herança
Vovó
Júlia me contava
Que
um pajé tinha contado
De
como surgiu no mundo
O
mito do canaimé malvado
E
isso aconteceu
Há
um século passado
Ela
ouviu essa história
De
um tal de bonitim
Ele
era um pajé
Seu
nome era Joaquim
Mas
era mais conhecido
Por
Joaquim bonitim
Ele
conhecia a história
E
tinha sabedoria
Hoje
vou repassar
Em
forma de poesia
De
história de Canaimé
De
mistério, encanto e magia
02
Há
muito tempos atrás
Existia
pajés maus
Fizeram
pacto com demônio
Em
um grande ritual
Adquiriram
poderes
E
força sobrenatural
Eles
usavam um livro
E
o livro era insano
Era
um livro de maldade
Era
de São Supriano
E
quem era seus inimigos
Cometia
um engano
Eles
ficavam invisíveis
Podiam
virar toco e pau
Assumiam
qualquer forma
Podiam
virar animal
Uma
força imaginável
E
só faziam o Mal
Quando
esses pajés morreram
Suas
almas viraram Fel
Ficaram
vagando na terra
Por
que foram bem cruel
E
foram morar nas serras
Por
que não subiram pro céu
03
Para
o Espiríto adormecer
Precisava
descansar
Ele
encontrou uma planta
Deu-lhe
o nome de TAJÁ
Ele
ficou esperando
Para
alguém lhe encontrar
Dizem
que um certo dia
Um
feiticeiro ingaricó
Encontrou
essa tal planta
Quando
um dia andava só
E
ela lhe deu poderes
Se
tornou um Maicó
A
planta lhe deu poderes
Pra
matar os seus rivais
Começou
a matar gente
E
ele queria mais
Quando
queria ir longe
Transformava
–se em animais
O
Velho virava bicho
Corria
pelo lavrado
Virava
tamanduá
Corria
pelo serrado
Perseguiu
outros pajés
E
todos viraram finados.
04
O
tajá foi descoberto
Por
um feiticeiro velho
Que
virou o Canaimé
Virou
lenda e mistério
Quem
ousou desafiá-lo
Foi
morar no cemitério
Ele
matou muita gente
Foi
agouro e espanto
Tornou-se
o Senhor da Morte
Com
magia e encanto
Assim
surgiu Canaimé
E
a Morte é seu Canto
Minha
avó sempre falava
Da
serra do kuando kuando
Era
a serra dos rabudos
Que
eu cresci sempre escutando
Lá
a tribo dos canaimés
Eles
foram aumentando
Mas
quem ia nessa serra
era
pra encontrar o Tajá
pra
se tornar canaimé
Fazer
o mal e matar
Os
feiticeiros sabiam
Onde
ela encontrar
05
Um
dia os wapichanas
Procuravam
um lugar
E
vieram da Guiana
No
Brasil vieram morar
Na
Raposa serra do sol
No
Uiramutã vieram acampar
Mas
quando chegaram lá
Os
Macuxis lá já moravam
E começou
uma disputa
Por
território demarcado
E
os índios Wapichanas
Começaram
ser caçados
Os
índios Wapichanas
Eram
um grupo de dois mil
Eram
Nômades da Guiana
E
migraram pro Brasil
Em
buscas de novas terras
Acamparam
na beira de um rio
Então
começou uma guerra
Guerra
sangrenta e frontal
Entre
macuxi e Wapichana
Uma
batalha tribal
E
começou morrer gente
Morriam
feito animal
06
E
os índios Macuxis
Descobriram
o tajá
E usaram
essa planta
Preparados
pra matar
E
os índios wapichanas
Começaram
a caçar
E
os índios wapichanas
Começaram
a morrer
De
morte misteriosa
Não
sabiam entender
Como
isso acontecia
Não
sabiam o que fazer
E
os índios macuxis
Viraram
Canaimé
E
começaram a matar
Criança,
homem e mulher
E
enfiavam em sua bunda
As
folhas de Caimbé
As
mortes eram um mistério
Wapichanas
estavam acuados
Eles
estavam com medo
Todos
estavam assustados
Só
tinha uma solução
Fugir
para o outro lado
07
No
meio dos wapichanas
Existia
um pajé
Uma
noite bateu folha
E
viu muitos Canaimés
Pediu
pro seu povo ir embora
Dali
tinham que dá no pé
E
então naquela noite
Pajé
fez uma oração
E
pro pajé maruai
Pediu
orientação
E
com a sua resina
Fez
uma defumação
Pajé
também queimou
Os
pêlos do Cuatá
Para
matar os canaimés
Que
estavam pra atacar
Quando
sentiram o cheiro
E
Começaram a gritar
Canaimé
gritava doido
Com
os gritos de horror
Apareceu
tanto bicho
Numa
noite de terror
E
eles todos caíram
Quando
pajé o defumou
08
Os
wapichanas então fugiram
Pajé
ia sempre na frente
Fazendo
a defumação
Pra
proteger os parentes
Muitos
rabudos morreram
Naquela
noite presente
Os
wapichanas conseguiram
E
tiveram muita sorte
Foram
quase dizimados
E
escaparam da morte
Dos
macuxis canaimés
E
fugiram para o norte
Eles
migraram para serra
Que
puderam chamar de sua
Com
abundância em mata
E
cunhatã correndo nua
Morada
dos wapichanas
Chamada
serra da Lua
Hoje
o Canaimé
Está
em toda região
Ataca
várias malocas
Matando
nossos irmãos
Eles
são sanguinários
matam não tem perdão
Escutei
outra história
Foi
meu pai que me contou
A
história de um pajé
Ele
era seu avô
O
seu nome era Aleixo
A
serra da moça fundou
Ele
curou muita gente
Por
feiticeiro era temido
Muitas
pessoas o procuravam
Ele
era o preferido
Mas
também por canaimé
O
pajé foi perseguido
14
Um
dia saiu pra pescar
Na
beira de um igarapé
E
sofreu um grande ataque
Por
um grupo de canaimé
Ele
morreu nesse dia
Debaixo
de um caimbé
Teve
um fato real
Do
canaimé do Jacamim
Ele
matou muita gente
Mas
foi triste o seu fim
Ele
foi esquartejado
Foi
cortado em pedacim
O
povo ficou revoltado
E
fez uma grande besteira
Foram
jogando os pedaços
Dentro
de uma fogueira
Canaimé
morreu queimado
Num
dia de sexta-feira
Existiu
também um homem
Chamado
Napoleão
Ele
viveu uma história
De
aventura e ação
Viveu
com os canaimés
Teve
uma iniciação
15
Os
Canaimés o pegaram
E
ele viveu um drama
E
eles levaram ele
Para
o rumo da Guiana
E
fizeram ele matar
Uma
menina wapichana
Ele
andou e comeu
E
viveu com os canaimés
Ele
viu morrer criança
Homem,
velho e mulher
Eles
andavam longe
Passavam
puçanga no pé
E
depois de algum tempo
Os
canaimés o soltaram
Não
conte nada a ninguém
Eles
o avisaram
Pra
não contar o segredo
E
eles lhe ameaçavam
Mas
depois de muito tempo
O
segredo ele contou
E
depois de uma semana
O
canaimé lhe matou
Por
que o grande segredo
Napoleão
revelou
16
Um
dia um wapichana
Foi
derrubar sua roça
Tinha
um pé de samaúma
A árvore era muito grossa
E ele
fez uma ajurí
Pois
sozinho não há quem possa
Mas
ali naquela árvore
Os bichos ali moravam
Era
casa de canaimé
E
a árvore derrubaram
E
dali daquela árvore
Os
canaimés expulsaram
Mas
quando foi a noite
O
homem foi perseguido
Canaimé
fez um ataque
Matou
seu filho querido
Essa
foi a vingança
Do
canaimé destemido
Também
existiu um homem
Matador
de canaimé
Seu
apelido Mambira
O
seu nome era Zé
Ele
era Zé mambira
Matador
de canaimé
17
Zé
Mambira foi soldado
Foi
escalado pra guerra
Ele
era wapichana
Era
filho dessa terra
Foi
curado por seu pai
Que
era pajé da serra
Ele
pegou um costume
Talvez
por que foi soldado
Quando
saía de casa
Saía
sempre armado
Sempre
com uma espingarda
Revólver,
faca ou terçado
Quando
ele era criança
O
seu corpo foi fechado
Para
não ser perseguido
Para
não ter mau olhado
E
principalmente por bicho
Como
o canaimé malvado
Ele
podia ver
Canaimé como animal
Também
em forma de gente
Pra
ele era tudo igual
Pra
ele era um dom
Era
um dom natural
18
Um
dia saiu para roça
Canaimé
lhe atacou
Mas
ele lhe viu primeiro
Seu
terçado ele puxou
Ele
partiu pro ataque
O
bicho ele golpeou
Desde
desse dia então
Zé
Mambira não teve sossego
Ele
via canaimé
Desde
manhã logo cedo
Mas
do bicho canaimé
Ele
nunca teve medo
Zé
mambira nunca soube
Quantos
canaimé matou
E
sempre essa história
Para
todos ele contou
A
história de Zé Mambira
De
canaimé o matador
Pra
matar um canaimé
Tem
várias maneiras
Mas
se for matar de tiro
Somente
com bala de cera
Tem
que ser no coração
E
a morte é certeira
19
Quero
que essas histórias
Não
venha se perder no tempo
Que
ela seja repassada
Cada
hora, cada momento
A
história do nosso povo
E
dos nossos pensamentos
E
Todas essas histórias
Pelos
velhos foram contadas
As
histórias de canaimé
Elas
não foram inventadas
Eu
apenas escrevi
Pelos
antigos foram narradas
Depois
que você ler
Você
vai analisar
E
eu não estou pedindo
Pra
você acreditar
Mas
a sabedoria dos velhos
Nós
devemos respeitar
Me
lembro daquele tempo
Nunca
saiu da memória
Quando
as crianças ouviam
Dos
velhos as suas histórias
Bons
tempos eram aqueles
Um
bom tempo de glória
20
Quando
a noite chegava
Nos
sentávamos ao luar
Os
velhos contavam histórias
As
crianças iam escutar
E
ficávamos até umas horas
Até
o sono chegar
Tinha
histórias de macacos
Da
onça com o jabuti
História
de canaimé
De
pajé, de curumim
Curumim
virou tatu
A
história não tem fim
As
histórias dos mais velhos
Já
não tem mais atenção
Elas
estão sendo esquecidas
Pela
nova geração
Passatempo
das crianças
Hoje
é televisão
autor: ivonio Solon Wapixana
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